terça-feira, 10 de junho de 2014

Um nova esperança para uma velha dor

Tenho passado maus momentos. Tudo parece confuso e sem saída. E o pior é dentro de mim, mas há de surgir uma luz no fim do túnel. Pelo menos esse ditado me conforta. Dizem que a esperança e a última que morre, na verdade a esperança é sádica. Fica até o final e durante todo o percurso fica só contemplando o sofrimento de seu esperado. Mas não tem jeito, nesses tempos difíceis, o que me resta é esperar. Mas não adianta ficar aqui filosofando e praguejando a esperança, o que resta é a ditadura da vida. Temos que viver. Nem coragem para me matar eu tenho. Minhas pseudo-convicções espirituais não permitem tal ato. Por isso, vamos lá! Não dá pra ficar romantizando a morte e o suicídio. Um dia a Amanda disse que eu fazia suicídios poéticos. Na ocasião eu estava lhe contando de como planejei minha morte. Ela riu, acreditam? Era subir em uma árvore, colocar uma forca, tomar muitos soníferos e dormir. Ao dormir meu corpo cairia e com seu peso eu me enforcaria. Achei tão bonitinho e romântico. Enfim, ela deve ter razão, tudo não passa de um suicídio poético e para ser poesia precisa que eu esteja viva para escrever, por isso, uma morte impossibilitada. Mas esses momentos me afligem e eu acabo surtando. Talvez uma forma de matar a situação pela qual estou passando. E quando reabro os olhos e venho escrever parece que sempre preciso recomeçar, mas para esse recomeço sempre preciso reler o que passou e tentar me reatualizar com um novo olhar, um novo paradigma. É assim que me sinto hoje. Um novo olhar, um novo paradigma. Mas esse novo também traz algo do velho. De um lado vejo a imagem de minha infância, correndo por um jardim florido, brincando de esconde-esconde com minhas duas melhores amigas. A Pri, a mesma que hoje continua minha amiga, já demonstrava seus ares questionadores perguntando porque devia se esconder se não havia feito nada de errado. Do outro lado, o novo olhar enxerga que hoje tenho que constantemente me esconder de patrulhas ideológicas, vejo o quanto é difícil ser eu mesma sem toli alguém, o quanto é difícil crescer junto, sem corporativismo, sem artimanhas, sem manobras jurídicas e/ou políticas. Digo isso pois após minha demissão do escritório, muita coisa se passou e muita coisa aprendi. Primeiro que fiquei estudando para concurso público e passei. No ano de 2011 entrei em um órgão que atua com assistência jurídica para pessoas que não tem condições de pagar um advogado. Aprendi muito lá. Aprendi muito com o contato com a população usuária, seus desafios, suas lutas diárias e de como a vida tem se tornado difícil para os trabalhadores em geral. Aprendi também muito sobre análise documental, seus componentes e seus correspondentes com a vida material, mas sempre em um perspectiva individual. A esses aprendizados também fiquei bastante triste em ver as dificuldades da população. E sobretudo, por sentir que enquanto sujeitos históricos individuais estão submetidos a processos sociais que nem imaginam o quanto determinam suas vidas e as deixam mais miseráveis. No último ano me senti bem frustrado em perceber os limites profissionais frente a essas determinações.
Fiz duas novas amigas em meu novo trabalho. A Fabinilda e a Cristina. Fabinilda é um tratamento carinhoso. Ambas são ótimas, a Fabinilda tem cabelo vermelho, é exótica, guerreira e sensível. A Cris é oriental, centrada, perspicaz e inteligente. É claro que essas são características sob o meu ponto de vista e que não as definem, afinal, são como todo e qualquer ser humano, cheio de virtudes e defeitos também. Aliás, a sensibilidade da Fabinilda é às vezes exagerada e ela sofre muito com isso. E a perspicácia e inteligência juntas na Cris, às vezes a torna um pouco chata. O sofrimento da Fabinilda a gente acolhe, e a chatice da Cri é bem tranquilha. Um detalhe interessante, a Cris quando bebe fica bem vermelha e engraçadinha e a Fabi mais sensível ainda. Quando saberem disso ficarão bravas comigo. São coisas da vida de uma escritora. Tenho me divertido com essas duas. E ambas já me apresentaram muitas coisas boas desta cidade. A primeira foi o samba do Serenô no clube 13 de maio. Ótimo! Excelente! E a segunda foi o Trio Quintina no Empória São Francisco. Ótimo! Excelente! Mas o principal que me apresentaram foi o João. Ai, meu Deus! Que homem! Sensível, inteligente, carinhoso, envolvente, uma fala mansa, um jeito introspectivo que me derreteu, um olhar penetrante. Mas calma, essas são as características depois de um ano de casamento. Isso, eu me casei com o João. Ele é .... ah, calma. Vou tentar descrever um pouco de nossa história aqui.

sábado, 20 de novembro de 2010

Uma luz no fim do túnel

Hoje tive um sonho que me mostrou a realidade, paradoxo não? Um sonho mostrar a realidade, mas enfim, sonhei que estava em um navio que começou a afundar. Em alto mar tinha apenas um barco salva-vidas com o Dr. Carlos. Ele me chamou para entrar no barco e quando me atirei para nadar até ele, o barco já não estava mais lá, nadei horas para encontrar algo até o momento em que me vi sozinha, comecei a afundar, afundar e acordei. Esse sonho me fez ver que aceitar a proposta do Dr. Carlos é a pior das minhas opções, acho que fiz isso ontem por estar abalada ou chocada com a situação, acabei ficando imóvel e não percebi o tamanho da besteira que havia feito, mas como diria no filme Vanila Sky: “todo segundo é uma nova chance para se mudar tudo”. E este é o instante, a vida presente, a realidade. E foram com esses pensamentos que hoje fui trabalhar e com toda sensatez de um arrependimento fui conversar com o Dr. Carlos para pedir minha demissão. Ele, sempre preocupado com a empresa, perguntou se eu tornaria público as suas falcatruas. Disse que não havia pensado sobre isso e no momento certo ele saberia minha decisão. É estranho, tudo isso me mostrou o quanto estava errada e o quanto era ingênua. Errada em planejar minha ascensão na empresa pela derrota de outro e ingênua por achar que isso era lutar pelos meus direitos. Só agora percebo.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Da carência de mudança ao mundo carente.

Já se passou muito tempo depois da última mensagem, e o tempo é cruel na vida de uma mulher. Amores se perdem, oportunidades se vão, mas sempre tem janelas e portas que se abrem dizendo: vem, vem recomeçar, vem experimentar esse doce amargo que é viver. Depois do Cláudio, no amor, me atirei em ilusões que só me fizeram sofrer. Mas de tudo aprendi que nada tem solução, apenas retorno a si. Mas isso conto em outra oportunidade. O que me chama a atenção é minha situação na empresa. O asqueroso do Sr. Cláudio continua no mesmo lugar e cada vez pior, cada vez se deleitando com seu pequeno, mas eficiente poder. Quase todos os dias em que coloco a cabeça no travesseiro, tenho vontade de morrer dormindo. Simplesmente não acordar para trabalhar. Mas o despertador sempre me lembra o dever de enfrentar a vida. Esta vida que em grande parte não escolhi, apenas nasci. Dizem que a vida é tirana, sempre discordei dessa idéia e pensava que nós é que somos tiranos de nossa própria vida, até chegar o dia que a realidade me provou o contrário. Foi uma semana depois de ter planejado o tombo do Sr. Cláudio. Cheguei firme dentro do meu castelo de cartas e mostrei o meu melhor, usei toda minha delicadeza ao colocar a última carta na pilha que se estendia pelos meus planos, mas não contava com o suborno do desejo e tudo caiu num piscar de olhos que nem percebi que na mesa havia mais coisas que a minha vã racionalidade pensou. Havia o corporativismo, o rabo preso e tudo mais que a intimidade não deixou transparecer aos meus olhos ingênuos e sedentos de mudança. Cheguei toda imponente e mostrei tudo para o Dr. Carlos, todos os erros e falcatruas do Sr. Cláudio. E foi nesse momento em que o Dr. Carlos mostrou sua face oculta. Olhou bem nos meus olhos e perguntou: “O que te faz supor que não sei dessas coisas?”. Na hora o espanto não me deixou responder, gaguejei e quando tentei falar ele me interrompeu imediatamente e com pesar disse: “Não diga nada, chame o Sr. Cláudio, volte para sua sala e faça seu serviço, depois conversaremos”. Chamei o Sr. Cláudio e no caminho até minha sala tudo ficou claro como o sol que nasce em uma manhã de inverno. “Que burra, que estúpida, que ingênua. É Vivian nessa você se deu mal, muito mal”. Fiquei esperando concentrada em minha ansiedade por uns quinze minutos, foi quando o Sr. Cláudio apareceu balançando a cabeça com reprovação e com um olhar de pena. Aquele sem dúvida foi o pior momento, porque todo meu plano era atingi-lo e todos os tiros saíram pela culatra, e a culatra foram aqueles olhos. Fui para a sala do Dr. Carlos, pediu para eu me sentasse, respirou fundo e começou a dissertar uma longa introdução sobre os tempos difíceis em que estamos vivendo, sobre a política econômica ou algo parecido. Não prestei muita atenção, não por maldade, mas porque simplesmente não conseguiu esquecer o olhar do Sr. Cláudio. Fiquei imaginando o que ele estava falando para os colegas, o tudo que poderia ter dito para o Dr. Carlos. Estava ouvindo o homem que dias atrás pensava estar apaixonada, mas só conseguia olhar o movimento do pequeno relógio de ponteiros sobre a mesa e pensar no deboche do Sr. Cláudio. Que maldição, pensei. Por alguns instantes veio uma vontade enorme de sair correndo pela porta, dar um tapa na cara do Sr. Cláudio e me libertar de todas aquelas amarras invisíveis que me prendiam naquela cadeira, mas não consegui nem mexer meus braços que estavam sobre minhas pernas. O Dr. Carlos continuava com seu discurso, parecia que agora falava sobre os altos impostos e a dificuldade de concorrer com os grandes empresários da área. Concordava com tudo, sem compreender muito sua linha de raciocínio. Lembro-me que ao ouvir sobre a concorrência pensei na própria concorrência dentro da empresa. Que mundo e este que vivemos? Como conseguir estabelecer qualquer tipo de relação sem ficar com o pé atrás? Percebi que embora criticando toda aquela situação, também fazia parte dela de forma visceral, pois estava competindo com o próprio Sr. Cláudio. Senti repugnância de mim mesma. Tentei me agarrar em minhas razões, mas elas escorregavam em minhas auto-condenações. Não conseguia se esquivar de meus próprios pensamentos. O Dr. Carlos ora se levantava ora andava por detrás de sua mesa ora olhava pra mim para ver se estava prestando atenção. Esses momentos eram como socos em meu útero. Depois de alguns minutos ele finalmente mudou o tom de sua voz, virou-se pra mim e disse: “Srta. Vivian, você é uma boa funcionária, executa tudo com eficiência e precisão e você é quem decide: você é esperta, e como sabe, tudo que me falou a minutos atrás pode nos levar a um escândalo e a empresa não resistiria e chegaria a falência. O que prefere: destruir tudo e todos que te acolheram e deram ensinamentos, experiências e oportunidades, ou continuar colaborando com nossa empresa, trabalhando para o seu bom desempenho e qualidade?”. Eu não acreditava naquilo, não conseguia acreditar que todas aquelas palavras saíram da boca do Dr. Carlos. Minha barriga gelou, minhas mãos estremeceram, minhas pernas enfraqueceram. E completou: “É claro que você não sairá de mãos abanando, conversei com o Sr. Cláudio e decidimos oferecer um aumento de salário para você de 20%. O que me diz?”. Como ele conseguia ser tão frio falando daquela maneira. Toda a coragem que vi dias atrás em meus olhos refletida em meu espelho se dissipou. E tudo que consegui foi concordar. E hoje estou aqui, deitada em minha cama lembrando que amanhã o relógio irá despertar, que terei que levantar, olhar novamente no mesmo espelho e nos meus olhos e sentar na mesma cadeira.

sábado, 11 de agosto de 2007

Velhas novidades

Hoje acordei de bem com a vida. Feliz! Normalmente isso não acontece, chega a ser estranho, fico desconfiada, até parece prelúdio que algo ruim irá acontecer. Dito e feito, a profecia se autocumpriu. A Amanda me ligou dizendo que uma amiga dela de faculdade estava no acidente do avião da Tam. Estava voltando de um congresso de biologia em Porto Alegre. Ela havia ligado para Amanda um dia antes da viagem dizendo que estava com planos de fazer mestrado na Estadual do Rio Grande do Sul, que tinha conhecido um professor que gostou do projeto dela. A vida realmente é muito incerta e caótica. Somos reféns de um conjunto de acasos que se somam sem explicação. Além disto teve os problemas cotidianos do escritório. Dentre eles, o Sr. Cláudio volta amanhã. Disseram que está melhor. Ainda não desiste dos meus objetivos, de fato estão adormecidos pelos acontecimentos, mas ainda continuo com aquela sensação de que não sou reconhecida no trabalho e que devo fazer algo para mudar isso. O que exatamente ainda não sei, mas quando chegar a hora não hesitarei um só momento. O Dr. Carlos não veio hoje e provavelmente depois da volta do Sr. Cláudio passará menos tempo no escritório, que pena. A presença dele é animadora e, por que não dizer, excitante. Sempre reservado nos assuntos pessoais, acredito que ficou assim depois da morte da esposa. Um acidente horrível de carro há dois anos. Dizem que depois disso nunca mais se relacionou com outra mulher. Dizem também que era extremamente apaixonado por ela, acho que o nome era Marcela. Dizem, apenas dizem, nunca ouvi uma palavra de sua boca. Enquanto isso o outro Cláudio, nem deu sinal de vida. Provavelmente outros tantos acasos fizeram ele nem se lembrar de ligar. Bem que poderia ter dado pelo menos uma ligadinha falando um oi. Homens, acho que eles imaginam que ligar no outro dia significa assumir compromisso. Quando vão entender que compromisso se assume claramente e não implicitamente. Ligar no outro dia e falar: “Oi, gostei de ter ficado contigo, quem sabe a vida nos oportuniza outros momentos”, não significa “Oi, quero namorar contigo”, ou “Oi, quero sair com você hoje novamente”. É simplesmente um sinal de respeito, de boa educação. Mas no fundo a boba sou eu, que fico esperando respeito e sinceridade de um homem. Eles se dizem todos objetivos, racionais, mas no fundo são mais complicados que nós. Pelo menos em matéria de sentimento. São até mais instintivos, não controlam e não compreendem suas emoções. É fato que controlar sentimentos também não sou nenhum exemplo, mas sempre tive a impressão que compreendo melhor minhas emoções que qualquer homem que conheci até hoje.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Um é ruim, será que dois é bom?

Deveria ter uma lei que proibisse nomes iguais. Este final de semana eu, Pri e Amanda fomos a um barzinho e conheci um cara muito gente boa, mas detalhe o nome é Cláudio. Ele e mais dois amigos chegaram em nossa mesa e pediram para sentar, como eram bonitinhos aceitamos. Quando começaram a se apresentar o primeiro foi o Leo, o segundo o Marcos e o grand finale ficou para o Cláudio. Ninguém merece. E na disposição da mesa o Cláudio ficou bem ao meu lado, fato importante, pois o primeiro passo para uma paquera é a posição geográfica. É como os geógrafos dizem, o território é humanizado. O início do papo foram trivialidades, profissão, idade, cidade natal, essas coisas. Vez ou outra a conversa se entrecruzava a todos, por exemplo, quando a Amanda disse que era de Mogi das Cruzes e o Marcos que estava conversando com a Pri ouviu e comentou que tinha uma tia que morava lá. Disse o nome dela mas a Amanda fez sinal que não conhecia. As atenções logo foram dividas novamente entre os pares e fiquei conversando com o Cláudio, não resisti e acabei dando um sorriso, pois infelizmente lembrei do Sr. Cláudio. Ele perguntou porque estava sorrindo e acabei contando. Quando comecei a contar ficou com uma cara de tenso, mas depois acabou fazendo uma piadinha do tipo que aquele era o dia de sorte dele, enfim, acabou contornando a situação de uma maneira que gostei. Senso de humor e criatividade são duas características que aprecio. Isso acabou quebrando o gelo entre nós, o que não aconteceu, por exemplo, com a Amanda. Obrigado Sr. Cláudio pelo menos pra algo você serviu! Conversamos por um bom tempo e fiquei sabendo que além de se chamar Cláudio, ele é administrador de empresas, gosta de futebol, torce para o Palmeiras, mora sozinho, tem um filho de 5 anos, é divorciado há um ano e ficou casado durante três, tem olhos verdes, uma barriguinha de chopp e é um pouco mais alto que eu. Estávamos todas e todos conversando intensamente, reitero exceto a Pri, que fazia caras e bocas, provavelmente era devido aos pontos de vistas do Marcos, coitado. Pegou a mais radical entre nós. Em um momento de pico de repente o Leo começa a beijar a Amanda. Ficamos meio sem jeito com o fato. Acredito que não pelo dois se beijarem, já somos bem grandinhas para isso, mas o que fica estranho é aquele clima: e agora quem será a próxima? Ao mesmo tempo que cria a esperança, fica um certo desconforto se vai rolar ou não. Bom, no bar não rolou mais nada. Estávamos já meio cansadas de ficar ali, a músico não era dos melhores e estava em intervalo. Foi quando o Marcos soltou: “o que vocês acham de irmos ao posto?”. O que? Posto? Quem vai em posto é carro, meu querido. Retrucou a Pri. Foi o fim. Gosto muito da Pri, mas as vezes ela exagera. O menino ficou todo sem jeito, não sabia o que dizer. E aquele clima de “e agora, José?” se instalou na mesa. A iniciativa partia da Amanda que disse que ia embora com o Leo. Como aquele dia eu estava de carro sugeri de levar a Pri e o Cláudio, que estava com o Leo. O Marcos foi embora sozinho. Deixei a Pri em casa e fui levar o Cláudio em casa. Não era muito longe dali, no caminho fomos conversando sobre o ocorrido. Ele não entendeu muito a postura da Pri, tentei explicar pra ele que ela era assim mesmo, que tinha algumas posições radicais, mas era gente boa, etc, etc, etc. Quando chegamos no momento em que fomos nos despedir ele agilmente virou o rosto e nos beijamos. Ufa! Ainda bem que ele não me pediu um beijo, eu até daria, mas perderia todo o encanto. Ficamos ali por uns trinta minutos. Vez ou outra ele tentava passar as mãos em meus seios e meu bumbum e vez ou outra eu deixava. Ele me convidou para entrar, mas não rolou. Até fiquei excitada, mas sexo no primeiro encontro não rola pra mim. Não sou contra, já fiz, mas sempre me lasquei. Eles se empenham todos em fazer tudo direito e gostoso e depois nem ligam pra gente. Me sinto descartável. Enfim, ele desceu disse que ligaria depois e eu fui pra casa dormir. Antes, claro, passei aqui pra relatar... beijos.

sábado, 7 de julho de 2007

Quinta no vinho

Toda quinta-feira eu, Priscila, Amanda e Carla nos juntamos para tomar vinho e conversar, conversar e conversar. É o típico e clássico clube da Luluzinha. Falamos sobre tudo e principalmente todos. Ninguém escapa de nosso crivo, nem mesmo a postura desafiadora, afirmativa e moderna da Cristina Kirchner que se candidatou à presidência da Argentina. Pena que ela tenha mal gosto para homens, pois convenhamos aquele Nestor é feio. Chegamos também a conclusão que a Argentina só tem que ter mulher no cargo. Olha que tudo, ela vai morar na Casa Rosada. Triste foi constatar os atuais ícones femininos no Brasil. De um lado, a Mônica Veloso sendo a outra e se aproveitando para posar na Playboy e, do outro, a esposa do Renan dando o maior exemplo de submissão. É claro que em meio a todo esses assuntos surgiu a discussão sobre os meus sentimentos diante do Sr. Cláudio. A Priscila, a sempre feminista radical, começou a me criticar por ter pena dele, que isso era afirmar o papel histórico e socialmente construído. A Amanda me defendeu dizendo que era o instinto materno e que não podemos negá-lo pois faz parte de nossa herança genética de milhões de anos. Acho que tem essa postura porque é bióloga e tem uma filha de 10 anos. Ao contrário da Pri que não é mãe e sempre esteve envolvida com movimentos sociais, inclusive é fundadora do Movimento Pró-Mulher. A Carla, a psicóloga da turma, tentou fazer uma análise mais profunda agregando os dois pontos de vistas e chegou a conclusão que tive esse sentimento pois sou apaixonado pelo meu pai, que diga-se de passagem é bem parecido com o Sr. Cláudio em alguns aspectos. Afinal que homem não é parecido? E eu no meio de tudo isso não sendo ouvida. Claro que essa situação se modificou no momento em que dei meu piti básico e pedi para todas ficarem quietas, que estavam falando de mim como se eu não estivesse ali. Depois de alguns segundos de silêncio caímos na gargalhada. E finalmente pude dar meu ponto de vista. Sobre o fato de enxergar no Sr. Cláudio a figura do meu pai não tenho muito o que dizer, nunca fiz nenhuma relação entre os dois, embora a Carla afirme que isso seja inconsciente. Então se é inconsciente não me preocupa, nem Freud conseguiu entendê-lo, porque irei me preocupar com algo incompreensível e cheio de significados que apenas servem para atrapalhar. Quero entender a situação ali, no carne e osso, na minha mais plena consciência. Acredito que inconsciente é um nome para explicar o que não entendemos, mas que no fundo não explica nada, só especula e piora ainda mais a situação. Sobre o fato do instinto maternal até me convence um pouco, mas como não sou mãe ainda fica algo meio sem sentido. A Amanda disse que é exatamente por isso, como não sou mãe tento sublimar esse sentimento com os outros. Achei essa idéia um absurdo, pois seria muito estúpida em escolher o Sr. Cláudio como filho para sublimar meu instinto materno. A Amanda tentou contornar a situação dizendo que não é uma escolha, é algo “inconsciente”. Ela até fez com os dedos o sinal de aspas quando disse inconsciente. Todas nós fuzilamos ela com o olhar e no mesmo momento ela fez um sinal de quem concordou, mas não ficou convencida. Caímos na risada, exceto ela que não gostou muito. Continuei explicando que eu até identifico esse instinto e por isso se torna algo consciente e, portanto, não escolheria o Sr. Cláudio como suposto filho. A Carla delirou com minha explicação e a Amanda deu sinais de discordar novamente, mas foi interrompida pela Pri que disse para ouvir minha opinião e respeitar minha posição. Por fim, disse que o sentimento que mais me incomodou foi exatamente de se sentir impotente diante da situação, pois no dia anterior meu plano estava todo arquitetado e estava preparada emocionalmente para dar prosseguimento a ele. Eu não contava com a fatalidade do Sr. Cláudio ter um infarto. Expliquei que o importante no momento não era o inconsciente, ou o instinto materno ou minha posição social de mulher, mas a minha vida, meus projetos que foram interrompidos e que pouco ou nada podia fazer diante disse, exceto esperar. Meus planos tornaram se gelatina em minhas mãos e escorreu entre meus dedos e quanto mais tento agarrá-los mais eles deslizam, derretem e escapam do meu controle. Ficaram todas em silêncio me ouvindo, quando terminei permanecemos sem palavras por alguns segundos. Abrimos mais uma garrafa de vinho e voltamos a falar de política, do aquecimento global, e claro, de nossos pares.

terça-feira, 3 de julho de 2007

E segunda chegou e se foi

Vocês não acreditam. Hoje acordei toda animada, coloquei meu melhor terninho, me maquiei, sem muitos exageros claro, apenas para realçar, e quando chego no trabalho tenho a notícia que o Sr. Cláudio teve um infarto no final de semana. Até fiquei com dó, coitado. Eu só queria ocupar meu espaço nesse escritório, não precisava que ele sofresse assim. Não devia ter falado mal dele. Ai, porque sou assim? Até ontem ele era meu pior inimigo, agora fico compadecida pela situação. Só espero que ele melhore, pois caso contrário como vou dar prosseguimento no meu plano.

Por causa dessa situação o Dr. Carlos acabou ficando mais perto de mim. Ele sempre delegou poderes ao Sr. Cláudio e hoje teve que participar mais do trabalho. Inicialmente tentei controlar minha admiração por ele, mas acabei dando bandeira quando ele pediu para que ele levasse a petição do Sr. Costa para ele ver. Assim que ele me pediu para sentar acabei derrubando os documentos no chão. Também, precisava dar aquele sorriso, mas acho que ele não percebeu. Ou deve estar acostumado a desconcertar as mulheres em sua presença. É claro que me recompus imediatamente e justifiquei que estava preocupada com o Sr. Cláudio. De fato estava, mas não no sentido que ele entendeu. Disse que era uma fatalidade o ocorrido, começou a elogiá-lo, dizendo que era um bom homem, um bom marido, um bom pai e um bom profissional. Minha vontade foi falar tudo, relatar todos os erros do Sr. Cláudio no trabalho e que tenho que concertar, que ele subjuga sua esposa e fica cantando sua secretária e que nem ouve seus filhos. Não consigo entender como o Dr. Carlos, um homem tão inteligente, não vê essas coisas, deve ser o corporativismo masculino. Ou será que ele é ingênuo nessas coisas? É, deve ser ingenuidade, ele não tem cara de ser corporativista.

Obs: Acabei não explicando direito a razão deste diário. Tenho o hábito de escrever sobre os acontecimento da minha vida desde os 16 anos quando dei meu primeiro beijo. Adoro ver e rever o que escrevo e perceber o que mudei e o que não mudei. A Priscila, uma grande amiga feminista, me criticou por colocar o título de Neurótica e Romântica. Disse que estou reforçando uma visão machista sobre as mulheres. Até pensei em modificar, mas essa não foi a intenção. Sobre ser neurótica acredito que é uma condição da atual sociedade e não simplesmente pelo fato de ser mulher. Aliás, hoje vejo mais homens neuróticos que mulheres. Minha intenção é exatamente mostrar isso, que embora as mulheres sejam taxadas e muitas vezes são mesmo, não se trata de uma condição especifica de ser mulher. E pra ser sincera não vejo nenhum problema em ter neuroses, eu até gosto de algumas delas. Outras realmente gostaria de mudar, mas só com o tempo e com algumas seções de terapia. Se ser mulher também é ser neurótica, não vejo nenhum problema nisso. Acredito que o problema é separar e atribuir esse comportamento somente as mulheres. Isso não aceito mesmo. Agora sobre o Romântica, nem preciso falar muito. Algumas mulheres, inclusive a Priscila, diz que ser romântica é sinônimo de fraqueza, que temos que controlar nossas emoções e nos mostrarmos sempre forte. Até concordo em certo ponto, porque é só mostrar algum sinal de fraqueza que os homens se aproveitam. Mas a sociedade anda tão cética, racionalista, metódica, mecânica que um pouco de romantismo acredito que não faz mal. Acabar com o romantismo significa a prevalência do ponto de vista masculino. É claro que Romântica aqui não significa ser ingênua, submissa, mas compartilhar sonhos. E porque não compartilhar também com os homens, esses seres tão frágeis.

O Domingo e o Plano

Sempre fui uma mulher exigente comigo. Não sei se é genético, se foi minha educação, se é individual, se é uma condição da nossa sociedade consumista e capitalista que nos bombardeia com a liberdade de sempre ser a melhor das melhores. Enfim, toda essa coisa de competição masculina que se generalizou e invadiu toda a sociedade. O fato é que essa condição se internalizou em mim. Nunca precisei do meu chefe, Sr. Cláudio, me cobrar, sempre fiz isso por mim mesma, aliás, melhor que ele. Afinal, meu chefe é um bundão, nojento, chauvinista e asqueroso, se ele não fosse homem e amigo do Dr. Carlos com certeza não estaria ocupando aquela cadeira. Nunca tive muita pretensão de ocupar seu lugar, mas confesso que sempre tive a convicção que desempenharia a função bem melhor que ele. É isso que sempre me irritou nessa sociedade machista, ter capacidade, potencialidade e não ter oportunidades iguais. Não se trata de ambição, mas de reconhecimento. Talvez por isso essa exigência comigo, que, de acordo com minha terapeuta, é o que provoca minhas neuroses. Mas se o preço do reconhecimento é ser neurótica... que se foda! Hoje resolvi pagar o preço que for. A partir de amanha não compactuarei mais com os erros do Sr. Cláudio, não serei mais sua dócil empregadinha que faz tudo e ainda tem que sorrir, e não permitirei mais que ele fique olhando para o meu decote. Velho safado, só quero ver a cara dele quando perceber que uma mulher é bem melhor que ele e mais gostosa. Deve ser esse o problema dos homens, eles gostariam de ser bonitos e cheirosos e elegantes e atraentes e gostosos como nós. Mas nunca conseguirão sempre mijarão para fora do vaso, sempre terão barba por fazer. Ah, mas isso até que é bonito. Dar um ar de masculinidade, de algo vem e me pega com força e com prazer. Será que um dia ele vai ser meu? Como ele consegue ser tão charmoso? Aquela barba, aquele terno, aquele tórax acolhedor e aconchegante. E o sorriso? Nem me fale. Pena que é o chefe do meu chefe e ficaria estranho agora eu seduzi-lo, diriam que foi para subir de cargo e isso eu não suportaria. Só de pensar nisso já fico irritada comigo e me sentindo uma traidora das mulheres-que-sabem-o-que-quer. Odeio quando ouço: ah, fulana só conseguiu emprego por que tinha um caso com o chefe. Outra coisa que também odeio é o ditado: por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher. Vai a merda! Porque tem que ser atrás? Não pode ser pelo menos ao lado? E outra, grandes homens sempre são grandes machistas, isto significa que a grande mulher é sempre uma grande mulher submissa. Caso contrário não estariam atrás no mínimo ao lado e no máximo de frente. Batendo! Ah, Sr. Cláudio, amanha eu te pego!